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O que a Neoindustrialização poderia aprender com o Plano de Metas


A relutância de Lula em montar grupos de trabalho para as tais "missões" da Neoindustrialização vão comprometer seu desenvolvimento

Publicado: 02/05/2024

Do GGN
Por Luís Nassif

Uma leitura de trabalhos sobre o GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística) e do Plano de Metas de Juscelino Kubitscheck poderia ajudar o projeto de Neoindustrialização do governo Lula. Me baseei no trabalho de Marcos Lopez Rego e José Ernesto Mattoso Faillace Junior.

No início dos anos 50, o Brasil não tinha número suficiente de gestores, nem de trabalhadores especializados, vivia uma crise cambial persistente. Logo após a guerra, foi montado o plano SALTE (sigla para Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), que deveria ser uma parceria entre o Brasil e os Estados Unidos.

Não saiu do lugar. Logo em seguida explodiu a guerra da Coréia, que serviu de álibi para os EUA suspenderem qualquer ajuda econômica.

Mas o plano deixou algumas heranças relevantes. Primeiro, a identificação dos projetos estratégicos para o país – especialmente nos setores de energia. Depois, a fundação do BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico), para ser a contrapartida dos recursos públicos nacionais, fugindo da complexidade das negociações com o Congresso.

Mais relevante foi o desenvolvimento da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e, em seguida, o Grupo Misto Cepal-BNDE, cujos estudos seviram de base para o Conselho de Desenvolvimento Industrial, criado em 1951 por Getúlio Vargas.

A técnica do planejamento

A Cepal foi a primeira a desenvolver técnicas de planejamento, com metodologia para um plano de desenvolvimento, o primeiro plano de metas sério montado na América Latina.

Na época, o máximo que se tinha no país era pequenas linhas de produção de veículos CKD, sigla para Completely Knocked Down, era um veículo desmontado em suas partes e enviado para outro país para ser montado lá.

No fim do governo Vargas foi criada o CDI, que contava com uma subcomissão de jipes, caminhões, tratores e automóveis.

Presidida pelo almirante Lúcio Meira, o CDI montou um plano pensando nos setores de autopeças, revendas e fábricas, o  Comissão do Desenvolvimento Industrial (CDI), que contava com a Subcomissão de Jipes, Caminhões, Tratores e Automóveis.

O CDI precisou enfrentar três problemas:

1. Necessidade de mobilização de capital.

2. Enfrentar os interesses contrariados dos importadores de veículos.

3. Enfrentar os interesses dos exportadores estrangeiros.

Em 25 de junho de 1954, o decreto 35.729 criou a Comissão Executiva da Indústria de Material Automobilístico, embrião do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automotiva).

A morte de Vargas interrompeu o processo. Mas a eleição de JK o reabilitou. Foi quando os jovens treinados por Celso Furtado avançaram com sua proposta de construir uma base de infraestrutura. Aliás, o deslanche da economia brasileira se deveu à infraestrutura de energia e transportes.

Ao mesmo tempo, técnicos como Ignácio Rangel introduziam a técnica do projetamento – projetos visando um objetivo final. 

Os estudos iniciais

Em 27 de abril de 1956 foi encaminhado ao Conselho de Desenvolvimento o pedido para a formação de um grupo de estudos sobre a indústria automobilística. Foi dado um prazo de 30 dias para o grupo apresentar um plano completo. A meta inicial era a produção de cem mil veículos automotores em 1960, com 95% de nacionalização. Em 1960 foram produzidos 133.0541 com 93% de nacionalização, em peso, e 87% em valor.

Os objetivos eram claros:

  1. a criar linhas de produção no país com nacionalização em peso de 90% a 95%;
  2. confiar ao setor privado a incumbência de produzir os veículos;
  3. permitir a constituição de empresas com capitais brasileiros, estrangeiros e mistos;
  4. reservar ao Estado a função de promotor e coordenador, na fase de implantação da indústria (1956 a 1960);
  5. dar ênfase à produção local de veículos de importância econômica (caminhões), em detrimento dos veículos de transporte individual (automóveis).

Calculou-se, também, o mercado potencial. Com base no custo médio de veículos nos Estados Unidos e o custo de manutenção, chegou-se a um mercado aproximado de US$ 400 milhões, suficiente para viabilizar a implantação da indústria.

Um dos estímulos públicos mais relevantes foi a questão cambial: foram oferecidas taxas cambiais favoráveis, e linhas de financiamento para importação de equipamentos – algo, aliás, que o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, está preparando.

Os financiamentos do BNDE acabaram sendo pequenos perto do que foi investido. Mas ajudaram a definir regras de contrapartida por parte das montadoras:

(1) aprovação dos projetos por todos os membros do GEIA; 

(2) apresentação de pelo menos um projeto industrial com produção do motor do veículo em instalações próprias; 

(3) cumprir seus programas industriais conforme porcentuais fixados nos planos nacionais automobilísticos; e 

(4) produzir, no todo ou em grande parte, peças específicas para automóveis.

O método PERT

Com o tempo, a técnica dos projetos foi se sofisticando, a ponto de adotar o método PERT ((Program Evaluation and Review Technique), também conhecido como Técnica de Avaliação e Revisão de Programas, é uma ferramenta de gerenciamento de projetos utilizada para estimar a duração total de um projeto e identificar as tarefas críticas que podem impactar o cronograma), desenvolvido pelo setor de defesa norte-americano.

  1. 1 Decomposição do projeto em tarefas: O primeiro passo é dividir o projeto em tarefas menores e bem definidas, organizadas em uma sequência lógica.
  2. Estimativa de tempo para cada tarefa: Para cada tarefa, três estimativas de tempo são feitas:
    • ? Tempo otimista (to): O menor tempo possível para concluir a tarefa, considerando tudo perfeito.
    • ? Tempo pessimista (tp): O maior tempo possível para concluir a tarefa, considerando todos os imprevistos.
    • ? Tempo mais provável ™: O tempo mais provável para concluir a tarefa, considerando um cenário realista.
  3. Cálculo da duração média: A duração média de cada tarefa é calculada pela fórmula:
    Duração média = (to + 4tm + tp) / 6
  4. Criação do Diagrama de Rede: As tarefas e suas durações médias são representadas em um diagrama de rede, onde as tarefas são representadas por caixas e as dependências entre elas por setas.
  5. Cálculo do Caminho Crítico: O caminho crítico é a sequência de tarefas com a maior duração total, determinando o tempo mínimo para concluir o projeto.

Como conclui o trabalho:

Os três elementos básicos que caracterizam um projeto estavam formalizados: havia um prazo, estabelecido pelo Plano de Metas, havia um escopo, posto que foram definidas as metas de produção, e havia um custo planejado, por meio de renúncias fiscais. O projeto possuía uma estrutura de coordenação, semelhante a um escritório do projeto, que era o próprio GEIA.

É interessante a análise dos stakeholders do projeto, elaborado pelo trabalho de Marcos Lopez Rego e José Ernesto Mattoso Faillace Junior.

O Ministro da Economia José Maria Alckmin era opositor devido à carência de divisas. E a mídia por ser apoiadora da UDN, o grande partido de oposição na época.

A neoindustrialização

Hoje em dia o país tem abundância da oferta de gestores, a própria administração pública consagrou diversas carreiras de gestores. Mas a relutância de Lula em montar grupos de trabalho para as tais “missões” da Neoindustrialização vão comprometer seu desenvolvimento.

Há um sem-número de novos setores que poderão surgir. E inúmeras ferramentas que o governo poderá dispor para atrair o capital financeiro nacional e grupos empresariais que hoje vivem de taxa Selic e de financeirização até de estacionamentos.

A transição energética tem uma cadeia produtiva enorme.

Confira a cadeia produtiva da energia eólica.

Ou da energia solar.

Todos esses setores necessitariam estar englobados em um plano de metas, com um grupo de trabalho discutindo cada área e definindo estratégias para atrair investidores nacionais, fornecedores estrangeiros.

Mas, aparentemente, o Brasil semi-agrário dos anos 50 tinha mais visão de futuro que o país pós-Bolsonaro dos anos 2020.



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